Crítica doc Na Pele

Na Pele (2019), de Luana Nogueira

Por Luiza de Amorim

Residindo o festival Primeiro Plano na cidade de Juiz de Fora concomitante a um curso de artes (e cinema) na UFJF, é muito comum a presença do Instituto de Artes e Design todos os anos nos filmes da programação, como cenário ou até mesmo personagem. Tamanha repetição por vezes deixa o assunto monótono e os espaços – por exemplo, o bosque – cansativos de olhar. Os alunos costumam passar boa parte de sua semana nesse trânsito. No curta metragem documental Na Pele (2019), dirigido por Luana Nogueira, estas questões não se tornaram um incômodo.

O curta procura investigar, através de entrevistas e imagens dos estudantes em seus espaços de convívio na universidade, o que é estar se formando em artes e como isso pode te transformar. Neste momento, cabe mencionar que também sou bacharela do curso e estou quase concluindo o segundo ciclo em Cinema – o que não me deixa outra escolha a não ser pensar em como essas questões me atravessam.

Vejo a narrativa construída a partir de dois fios condutores: questionar o que os entrevistados descobriram sobre si mesmo estando na universidade, no curso de artes e compreender como a realidade histórica e social dos alunos pode gerar movimentos de renovação dentro deste espaço que é vivo – e deve buscar sempre manter-se público, gratuito, de qualidade e para todos.

O filme cresce a partir dos estudantes-personagens que conseguem acrescentar suas visões de maneiras tão elucidativas e ao mesmo tempo reflexivas. Gutão (Augusto Henrique) nos primeiros minutos do filme performa na concha acústica e coloca em evidência como nosso próprio corpo, mesmo que não intencionalmente, performa e é lugar de contato nos ambientes que habitamos. Em outro momento, olhando para a câmera, ele dirá sobre a importância de direcionarmos nosso olhar não apenas para aquilo que está na nossa frente, fechado, mas, como uma coruja, ver também o que está nos lados e nas bordas. Ao dizer isso, ele movimenta os braços de maneira enfática mostrando aquilo que está ao seu redor. Esta é uma fala recorrente entre os artistas-estudantes entrevistados, que mostra como a universidade pública (e todos os contatos que você tem com outras pessoas nessa temporalidade) te desperta para a possibilidade de abrir a visão, trocar, explorar o lugar que você habita.

Gravar um curta em meio a espaços abertos nos quais passam muitas pessoas gera algumas dificuldades que são incorporadas nos sons e imagens que assistimos e ouvimos. Ao meu ver existem algumas rugas, mas acredito que elas estão ali para reforçar a questão da diversidade do espaço – ponto onde cabem outras reflexões.
Alguns trechos me tocam de maneira pessoal e, para finalizar, os compartilho aqui. O pixo “Quem é você?”, que vi tantas vezes durante meu momento de aluna presencial e passei a quase ignorar, aparece no fundo de um dos planos logo no início. A pergunta me voltou de forma mais potente que no cotidiano, ao ser colocada na montagem, logo após o questionamento de como o curso de artes nos transforma. O forte da narrativa é chamar diretamente para a reflexão.

Em uma das partes em que Julinha (Julia Ciampi) é entrevistada durante o começo da noite no espaço chamado pelos alunos de coliseu, o som direto evidencia também o som de um ensaio do curso de música, trazendo memórias afetivas de quantas vezes esses instrumentos já preencheram os ambientes em que estávamos, de maneira sorrateira. Revelando como, querendo ou não, em algum momento, você será colocado em contato com aqueles e aquilo que estamos adaptados a chamar de outro e como essas relações irão te transformar.