Por Noah Mancini
Um corpo negro esfrega uma bandeira do Brasil, coberto com a bandeira do Brasil, estira-se no chão e canta uma canção de Elis Regina. A câmera gira em torno dele e a voz não para. Ora ofegante, ora emocionada, um brado quase cacofônico emitido aos quatro cantos pindorâmicos. Com certeza, não fora escutado, abafado pelos sons da epistemológica tecnocracia.
A luz natural do dia pouco a pouco vai estiando, o entardecer chega e “jamais foi tão escuro no país do futuro”. Através da tela, a videoperformance suplica – ou vomita? – inquietudes e certo pesar com a atual situação do país. “É de vocês o meu cantar”, como Augusto mesmo versa e doa – de mão e corpo jogados – um escarnoso ufanismo. O símbolo da bandeira, que foi saturado na cultura midiática desde a primeira onda anti-petista pelos neofascistas acalorados uniformizados da CBF, aqui é ressignificado e tratado enquanto algum manto e, por sua vez, cobre o que tanto tempo negligencia: os negros. Para os devidamente informados, não é necessário o antecedente e recorrente assassinato do estado brasileiro sobre a população racializada.
Ao final do vídeo, um bate-panela sem fim acompanha a vista panorâmica que foi anteriormente apresentado. O som metalizado ecoa sozinho pelas redondezas sonoras do bairro. És reles o impávido desgosto, o teu passado espelha esta tristeza. Na apropriação da bandeira junto à languidez performática, desidentificam símbolos nacionais, ideia de pátrias que não passam de mentiras cravadas, forjando delírios outros e cruzando impressões sobre códigos territoriais e identitários. Talvez não caibam hinos pela/para/por a pátria, odes que cessem o flagelo humano que o subdesenvolvimento nos obriga a passar e pensar.
“O terceiro mundo vai explodir e quem tiver de sapato não sobra”.