Por Helom Paulino Ferreira
O filme 1996 de Rodrigo Brandão apesar de ser considerado um terror found footage, soft, traz em seu enredo referências temporais e regionais
genuínas. Brandão segundo ele mesmo conta sempre foi um apaixonado por terror e em sua adolescência já se arriscava produzindo filmes caseiros, inclusive foi no gênero que estreou como diretor com o longa “Era dos Mortos” em 2007, contudo somente mais tarde em 2017 que o reconhecimento veio de maneira mais sólida com “Histórias Estranhas”, que foi premiado no Brasil e no México.
“Peraí! Mas esse não é mais um filme batido Found Footage? ” Eu sei que do amago de seu ser você deve estar pensando isso agora, porém, “Calma queridx!” Filmes dentro desse gênero que têm como representante o condecorado “A Bruxa Blair” de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez ou “Atividade Paranormal” de Oren Peli, trazem eu seu DNA dois grupos de obrigatoriedades, primeiro, filmes baratos, enredos simples e altas doses de sustos, segundo, serem muito bons ou muito ruins. Lembro do tanto de amigos que falaram ter ido embora do cinema em meio ao “A Bruxa de Blair 2” de Joe Berlinger, mas isso é assunto para uma outra conversa. 1996 traz em seu bojo uma história que se desenvolve a partir de uma lenda urbana que circunda a cidade de Varginha já fazem mais de 20 anos, o caso do “ET de Varginha” ocorrido justamente no ano de 1996 transcende fronteiras e contribui para a economia da cidade.
1996 em seus primeiros planos já mostra uma viagem para a década de noventa, inclusive aqueles com olhos desatentos podem nos primeiros
momentos achar estar de frente a uma gravação da época. Logo no começo uma das personagens principais se mostra fazendo caretas no espelho e
“ostentando” sua câmera VHS, Bia, a referida personagem, recebe em sua casa Luiza, amiga com quem vai partir em uma viagem de férias, enquanto as duas estão se preparando recebem conselhos da Mãe de Bia que se mostra preocupada e pergunta se Luiza conhece o caminho, “Piegas?” Eu diria que sim.
Até esse ponto da narrativa algo que merece destaque no curta é o fato de manter a temporalidade a qual se submete, a direção de arte mantém o espectador, por meio de detalhes, situado temporalmente em um ambiente jovial da década de noventa. O cenário do apartamento entra em consonância com o figurino das personagens, é mostrado o antigo console Super Nintendo, fitas cassetes, mochila da época, televisão de tubo e um pôster da banda Nirvana, se nada disso fez sentido para você, fique tranquilx, você provavelmente não foi jovem na década de noventa.
Com relação aos efeitos e maquiagem alguns aspectos merecem destaque, o OVNI avistado ganha na realidade, uma vez, não ter sido superestimado, combinemos que aqueles disco-voadores imensos emitindo brilhos e luzes são muito bregas para extraterrestres que viajaram a galáxia e chegaram até nosso planeta. As feridas dos personagens parecem muito reais e não deixam a desejar, sendo que, a atuação corrobora com o todo. Por outro lado, à tão aguardada “criatura” falta realidade, parafraseando Verna Fields uma das maiores montadoras da história “as vezes é necessário cortar mais quadros, ter menos para sentir mais”, não é à toa que Steven Spielberg atribui a ela a realidade vista nas telas do filme Tubarão, o próprio diretor diz que a criatura no set não parecia tão real. Apesar do ET de 1996 guardar muito de parecido com
os bonequinhos e lembranças que qualquer viajante passando por Varginha compra, dificilmente assustaria um espectador mais atento.
Apesar dos pesares, e não chamem esse termo de clichê pois aqui vos escrevo sobre um filme Found Footage e de clichê esse gênero não tem nada, 1996 é um ótimo representante desse estilo de terror. Traz um enredo devidamente encaixado em uma famosa lenda urbana regional, consegue envolver seu telespectador fazendo uso de diálogos curtos, a todo momento nos lembra por meio de elementos do figurino ou cenários que estamos vivendo na década de 90 e além disso tem boas doses de sustos, ingrediente necessário para alimentar os amantes de terror. 1996 com toda certeza tem lugar ao lado das boas produções cinematográficas de terror.