Primeiro Debate de Curtas aborda as novas tendências do cinema contemporâneo

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Igor Visentim, Pedro Carcereri, Guilherme Viñas, Joyce Prado e Jocimar Dias Jr.

No primeiro Debate de Curtas do Festival Primeiro Plano 2014, os realizadores da Mostra Regional e da Mostra Mercocidades tiveram a oportunidade de contar as impressões e dificuldades encontradas no processo de produção audiovisual.

“O Administrador”, de Guilherme Viñas, é construído em cima de um texto de Kafka. “O filme aponta a burocracia, sempre muito abordada por Kafka. “Optamos por abusar do travelling pra provocar a ideia de que o personagem dá conta do que está acontecendo ao seu redor à medida em que a câmera vai se aproximando dele”, explica Guilherme.

Pedro Carcereri, de “Modorra”, disse que o objetivo de seu filme é gerar um incômodo no telespectador. “Esse sentimento está presente no próprio personagem, que é construído com uma única fala e suas ações cíclicas e acredito que é isso que gera a angústia”, esclareceu o diretor.

E não foi só “Modorra” que utilizou o incômodo como tema. O curta “Mais cor por favor”, de Igor Visentim e Pedro Soares, aborda o olhar de uma caloura do Instituto de Artes da UFJF quando chega para a aula e se depara com uma escola artística com paredes totalmente brancas. “O incômodo do filme surge justamente dessa ausência de cor em um local que está constantemente repleto de novos artistas”, explica Igor.

O encontro contou ainda com a presença de Joyce Prado, produtora e roteirista de “Muros entre nós” e com o diretor de “Ensaio sobre minha mãe”, Jocimar Dias Jr.

Em “Ensaio sobre minha mãe”, grande parte do elenco é composta por familiares do diretor: além dele próprio, a mãe e três primos também atuam no filme. “Eu já havia trabalhado com minha mãe na criação de um videoclipe para a faculdade. O curta é um amadurecimento deste trabalho e foca na encenação das memórias dela”, explicou ele.

Assim como “O Administrador”, o curta-metragem “Muros entre nós”, dirigido por Chico Toledo, também encontra na literatura o seu ponto partida, uma vez que utiliza poemas de Elizabeth Barrett Browning e Robert Browning como fio condutor do diálogo na trama. “A preocupação da produção era selecionar os locais frequentados pelas pessoas observadoras que circulam por São Paulo e como elas ocupam e se encontram nessa trajetória, principalmente nos locais mais escondidos da cidade”, relata Joyce. Para ela, outro ponto de destaque no desenvolvimento do roteiro era buscar uma forma de mostrar um romance contemporâneo que se apresenta de uma forma mais clássica.

Ao final do debate, Pedro Carcereri analisou a temática encontrada na Mostra Regional como um todo: “Destaco aqui que temos diversos filmes que abordam a vida urbana em Juiz de Fora, fator que aponta que há uma maior preocupação da população com a cidade que habita”. A Coordenadora de Mídia e mediadora do encontro, Marília Lima, apontou que esta é uma característica da curadoria de uma forma geral e citou filmes como “Dias vadios”, de Samuel Lobo; “Jacklegal”, de Wanessa Malta, e o longa-metragem chileno, “A valsa dos inúteis”, de Edison Cajas. “Essa tendência é muito interessante porque apresenta a narrativa como um ensaio, que traz uma concepção diferenciada de realidade para o público por meio dos espaços do nosso dia a dia, que nos foge da visão viciada da nossa rotina”, acrescentou ela.

O encontro Debate dos Curtas segue até o próximo sábado, dia 20, com a presença dos realizadores dos filmes exibidos nas sessões das mostras competitivas Regional e Mercocidades do dia anterior. O evento é realizado sempre às 14h, no Anfiteatro João Carriço (Funalfa – Av. Barão do Rio Branco, 2.234, Centro).