O “corpo-tela” como potência do auto retrato

O que Pode um Corpo? (2020), de Victor Di Marco e Márcio Picoli

Por Lucas Mansur

O que pode um corpo? Essa é a pergunta proposta pelo curta-metragem de Victor Di Marco e Márcio Picoli que, através do corpo de Victor – o corpo de um bebê que nasce, mas não chora, um corpor que grita e não é ouvido -, apresenta a vivência pessoal do personagem, sendo PCD, e sua relação, desde sempre, com a sociedade capacitista – no geral, capacitismo é definido por atitudes preconceituosas e discriminatórias que vêem a pessoa com deficiência inapta para o trabalho e incapaz de cuidar da própria vida.

Os depoimentos pessoais de Victor são acompanhados por imagens potentes, experimentais e performáticas, como as cenas com as cordas que prendem Victor e
as cenas com projeções em seu corpo. A narrativa pessoal e as imagens, mais pessoais ainda, levam a uma reflexão geral, partindo do particular, partindo do corpo de Victor. Será que um corpo pode “menos” por ser diferente, por fugir do padrão?

O corpo é pura expressão, potência; o corpo é político. As imagens que Victor traz travam esse embate sobre o que é considerado “normal” e que remete à pergunta que dá nome ao curta. O que pode um corpo? é sobre a liberdade desses diferentes corpos, que ainda é um tabu muito grande, por conta dos pensamentos e comportamentos capacitistas presentes na sociedade.

Victor expõe em seu filme um corpo íntimo, despido e completamente entregue ao auto retrato que ele propõe. Tal retrato é baseado nas experiências de Victor com seu corpo; um “corpo-tela” que direciona a câmera à contemplá-lo e admirá-lo. Suas experiências se tornam poéticas e artísticas; se tornam performance e, capturadas pela câmera, se tornam audiovisual.