A vida como música

A Vida É Coisa Que Segue (2019), de Bruna Schelb Corrêa

Por Renato Knopp

Se a vida for música, a rotina é o refrão. Seja repleta de cacofonia ou lirismos, estejamos nos sentindo tristes ou felizes, é no refrão que nos achamos. O curta da produtora Filmes do Mato dirigido por Bruna Schelb Corrêa “A Vida É Coisa Que Segue” entende bem isso, e mostra através de Luiz e sua família como o corriqueiro, o normal e o comum, ajudam a superar até as maiores saudades. O curta entende também que, por melhor que seja a música, é preciso estar atento para poder desfrutá-la verdadeiramente: os close-ups em objetos do dia-a-dia, nas mãos do padeiro a fazer o pão, nos pés que caminham sobre o chão de terra, além de transmitirem intimidade, demonstram o carinho e atenção presentes nos pequenos detalhes. Detalhes que fazem de um dia comum, apesar dos pesares, mais uma oportunidade de viver e sorrir.

Luiz é um menino que recentemente perdeu o pai e, assim como toda família, sente sua falta. Por isso o início da metragem é marcado pela viola que chora, pelas lágrimas da mãe ao ouvir música na rádio, o tom surrealista na despedida do pai de sua casa, pelas (possíveis) lágrimas do espectador ao verem Luiz procurar pelo pai em todos os cantos, inclusive debaixo da terra. Porém, é graças a rotina que empurra os dias para frente que Luiz, tendo ido comprar pão, começa a papear com o padeiro e escuta uma de suas histórias e, apesar da saudade, reaprende a sorrir.

Diferente da solidão que parecia pairar em toda família, o curta termina com todos juntos, tomando um café da tarde. Diferente do sentimento de falta pela morte do pai, no final temos o sentimento esperança e vida pela gravidez da mãe. Diferente do surrealismo do início, com o céu lilás e a despedida para não mais voltar, temos o normal e o chão, com um Luiz dando pão para o cachorro. E diferente da viola solitária que chora, ouvimos pela primeira vez os versos omitidos na música que fez a mãe de Luiz chorar: “sentir a vida é o que importa / a vida eu nem penso nela / veria passar as horas / em frente a sua porta / olhando a tua janela”. Mesmo com todas as tristezas e saudades presentes, a vida ainda é a vida, e pode ser que em algum pequeno detalhe, em uma história de um amigo improvável, se encontre motivos para sorrir.