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Há um medo que nos aflige. No ar, sentimos aquela velha sensação de um olhar que julga nossos corpos. Velho, porque muito já foi superado, mas isso era o que acreditávamos. Nos surpreende mais, ver, claramente, que o conservadorismo foi apenas varrido para debaixo do tapete, guardado na gaveta da mesa quando chegavam as visitas. Esse pó voltou com um vento que começou soprando devagar, derrubando as boas frutas que demoraram para amadurecer; hoje, tornou-se agressivo e intolerante, desmatando tudo que foi cultivado e ainda não foi colhido. Na nossa memória coletiva, reside esse medo da dominação da única coisa que nos é próprio, nosso corpo. Vem então à tona o pavor de um retorno para aquele lugar sombrio que ainda está marcado em nossos corpos que já foram um dia escondidos, controlados, torturados, desaparecidos, assassinados e assediados. Pode ser que essa onda passe, mas a ressaca já é perceptível nesse texto que se esconde em metáforas
bobas.

 

AQUI SE RESPIRA LUTA!

 

A 17a edição do Primeiro Plano chega apreensiva, porém com coragem para bancar a luta pela resistência da multiplicidade de corpos, pensamentos, desejos, culturas e afetos. Residirá aí nosso poder de fala, dando a ver aquilo que querem jogar ladeira abaixo e tornar invisível novamente. Nossas duas mostras competitivas, Mercocidades e Regional, demonstram como o cinema é potente na construção de mundos, invertendo a hierarquia das vozes dominantes, incorporando gestos esquecidos e corpos marginalizados. Os longas que exibiremos deturpam os territórios, nos tiram de um lugar cômodo, expandindo o que pensamos sobre fazer parte de uma nação com suas fronteiras defasadas e sua terra cheirando a ferrugem. Faremos o Encontro de Coprodução Audiovisual da América Latina, para debater como podemos nos reconhecer enquanto latino-americanos através do cinema. As oficinas se voltam para a instrumentalização da técnica audiovisual, vai na base da formação cinematográfica para preparar o porte da câmera e do som. E as nossas crianças, mais inteligentes do que eles imaginam, imergirão na tela, se reconhecerão naquele lugar ainda indeterminado e possível de habitar e respirar. Faremos ainda a sessão com acessibilidade para trazer mais gente para o cinema e não o contrário. Em tempos de intolerância, só os afetos comunicam e isso é o que a arte cinematográfica tem para dar! Como equipe, criamos um reduto que agrega mundos dentro de um momento político que só quer ver seu reflexo. Em nosso trabalho, persiste a crença que o cinema une e compartilha. Enquanto o intolerante ainda não retorna para debaixo do tapete, ele vai tentar nos fazer sumir, porém, ELE NÃO nos apagará; como vaga-lumes, seremos sempre visíveis na escuridão.

A Equipe